sábado, 23 de junho de 2018

Um desabafo

 Tão fácil admirar e gostar de alguém que tem boa aparência, tem boa lábia e inúmeras qualidades que admiramos. Quando esse alguém nos trata bem, nos diverte, é útil para nós, nos diz as palavras que nos agrada e que gostamos de ouvir. Temos facilidade para amar o outro nos seus tempos de harmonia. Quando realiza. Quando progride. Quando sua vida está organizada e seu coração está contente. Quando não há inabilidade alguma na nossa relação. Quando ele não nos desconcerta. Quando não denuncia a nossa própria limitação. A nossa própria confusão. A nossa própria dor. Fácil amar o outro aparentemente pronto. Aparentemente inteiro. Aparentemente estável. Que quando sofre não faz ruído algum. 

Difícil é admirar e amar alguém quando este não concorda com suas atitudes, entende tudo errado, não acredita em mais nada, quando perde a fé e a esperança no relacionamento. Quando o outro fica mais diferente do que o habitual, se mostra mais parecido com alguém que não aceitamos que ele esteja. Difícil é amar quando o outro nos inquieta. Quando os seus medos denunciam os nossos e põem em risco o propósito que muitas vezes alimentamos de não demonstrar fragilidade. Quando a exibição das suas dores expõe, de alguma forma, também as nossas, as conhecidas e as anônimas. Quando o seu pedido de ajuda, verbalizado ou não, exige que a gente saia do nosso egoísmo, do nosso sossego, da nossa rigidez, para caminhar ao seu encontro.

É difícil mas não impossível, e continuamos tentamos...

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