segunda-feira, 5 de março de 2018

Uma vivência com os pés

Sobre segunda a noite: minha sandália descolou enquanto descia a ladeira da rua da faculdade. Comentei com uma garota que descia junto comigo "nossa que mico, a sandália quebrou" e ri da minha situação. A solução? ir descalça para casa.   
Quando dei o primeiro passo fiquei receosa dos olhares que receberia, o que os outros pensaria de mim... consciente desse sentimento de apreensão, questionei-o, e caminhei naturalmente e atenta a olhar para frente e me desvencilhar de possíveis cacos de vidros e objetos perfurantes.

Enquanto caminhava refleti o quanto ainda me importo com que os outros pensam. O quanto tento parecer  "normal"  e "adequada", o quão comum poderia ser a minha situação: " Ora mas quem nunca voltou descalço (a) para casa depois de ter o calçado descolado, perdido em uma festa ou até mesmo  depois ter sido assaltado (a)? " Conclui então que muitas pessoas passam por essas situações. 
Refleti também a questão de ter o pé no chão literalmente, e como há uma cobrança para sermos pessoas portadoras de uma certa "normalidade".  Uma pessoa descalça na rua ou em algum outro  lugar pode ser considerada louca, pirada ou mal educada,  pois desde criança somos obrigados a calçar uma sandália ou um sapato com intuito de nos proteger dos males e doenças. As meninas então,  aprendem  desde cedo a usarem variados tipos de calçados e se adaptar a eles. Nem pensar descansar os pés quer ser considerada uma criança/adolescente mal criada, que não tem bons modos? 
Depois deste questionamento comecei a sentir o chão que eu pisava, ser grata por aquele momento.

Dessa vivência adquiri um conhecimento e essa opinião que quero e preciso compartilhar com vocês.
Percebi que estamos perdemos a nossa liberdade, essência, simplicidade e a audácia de explorar, perceber e sentir o mundo. Sabemos que não alcançaremos o céu com nossas mãos, só não estamos percebemos que a cada dia estamos distanciando os nossos pés do solo, do asfalto, da grama,do piso brilhante das nossas salas, do colchão e do sofá macio. O excesso de cuidados em relação a saúde e a aparência de nossos lares, a seriedade presente em nossas vidas e a nossa importância a opinião dos outros tem nos impedido de caminhar por ai descalço, rir de nós mesmos depois de uma queda ou situação constrangedora, sair correndo na chuva, criar uma guerra de travesseiro, pular na cama, etc.

Que nossos pés não sejam ignorados, pois o mesmo é tão importante nesse processo chamado vida. 

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